quinta-feira, 5 de junho de 2014

O Prólogo do Quinto


Hideo Kojima, o famoso criador de Metal Gear, resolveu dividir o quinto título da série Solid em duas partes. Ground Zeroes é a primeira, um prólogo para nos acostumarmos com a nova premissa de mundo aberto, não ficarmos tanto tempo longe da franquia e, claro, ajudar a fundear os custos cada vez mais astronômicos do desenvolvimento de jogos AAA.

A questão é: um prólogo, que custa meio jogo, vale o "investimento"?


Os Pontos Positivos

Cada vez que chega uma nova geração de consoles as pessoas perguntam se as novas máquinas realmente tem gráficos tão melhores assim, que justifiquem a troca. No começo, por exemplo, era difícil justificar o Xbox 360... Até que apareceu Gears of War, e todos ficamos embasbacados com o realismo dos gráficos - por mais que nossa TV de repente parecesse ter voltado para a época dos conflitos NTSC / PAL-M, de tão cinza que o jogo era.

Não foi à toa que apelidaram o jogo de Greys of War

Felizmente Ground Zeroes é mais colorido, e seu amigo, que pediu para você demonstrar o novo console, já começará a babar no menu com os detalhes do uniforme do Snake. Fora isso, como as missões são curtas, você pode deixar seu amigo jogar uma rapidinho. Ele perceberá como o jogo está redondo: Snake se move e atira como nos melhores TPS's da geração anterior, com animações incrivelemente naturais e comandos intuitivos.


Ground Zeroes mistura sandbox com stealth, coisa que ainda não tínhamos visto. Embora isso fosse perfeitamente possível na geração anterior (até porque Ground Zeroes é cross-gen), o fato é que nunca tinha acontecido antes... Da mesma forma que nada impedia um cover shooter na geração do PS2, mas essa inovação só veio mesmo com o Gears no 360.

O Preço

Quando chegou perto da data de lançamento, jornalistas publicaram que tinham zerado Ground Zeroes em menos de duas horas, e muita gente começou a chamar o jogo de "demo paga". Eu não acho que horas por dólar seja a melhor métrica para diversão, mas realmente um jogo de menos de duas horas seria decepcionante, ainda que por metade do preço.

Bom, para começo de conversa, jogando normalmente (sem enrolação, mas sem pressa também) eu levei quase três horas para terminar a missão principal pela primeira vez, me divertindo muito no processo. Além disso, fora a missão principal, há mais SEIS missões adicionais! O jogo me entreteve por no mínimo umas boas 10h no total, eu estimo.

É fato que todas as missões se passam no mesmo mapa, e no final você já conhece o campo Ômega como a palma da mão. Mas elas acontecem em diferentes horas do dia e condições climáticas, tendo diferentes objetivos, pontos de entrada, tropas, veículos, rotas de patrulha... As coisas permanecem bem variadas, e eu não fiquei entendiado.

De dia os inimigos tem visão de piloto,
e as coisas ficam mais tensas...

Replay Value Demais

Como qualquer jogo hoje em dia, há inúmeros objetivos extras para quem quer uma desculpa para continuar jogando. Ground Zeroes não é diferente, e todos os suspeitos padrão estão lá: níveis de dificuldade, colecionáveis, desafios, até leaderborards, tudo devidamente amarrado aos tentadores troféus.

Eu não vejo problema nenhum com essas opções para aumentar o replay value. O que eu não gosto é que o jogo força a barra, criando dependências que não fazem sentido. Eu, por exemplo, queria jogar todas as missões do jogo, mas não gosto de colecionáveis. Então achei bem chato ter que rejogar a missão principal catando nove colecionáveis só para poder liberar duas missões adicionais. É lógico que eu usei um guia... Eu não me incomodo que haja um troféu para quem quer catar esses itens, eu consigo ignorá-lo solenemente. Mas travar o meu acesso às últimas missões do jogo? Simplesmente não faz sentido.

Outras dependências não incomodaram a mim, mas imagino que sejam igualmente chatas para outros. Você só pode jogar uma missão no hard depois de terminá-la no normal, há colecionáveis que dependem de de missões terem sido terminadas hard, há desafios que só são liberados depois de jogar cada missão DUAS vezes em cada nível de dificuldade e por aí vai...

Chegar aos 100% não vai ser para qualquer um...

Outra coisa que eu não gosto é que o jogo fica te estimulando a fazer as coisas correndo. O seu ranking no fim da missão depende disso, troféus dependem desse ranking, fora que quase todos os leaderboards começam com a palavra Fastest... Caramba, pelo menos para mim, fazer as coisas correndo é exatamente o oposto do que eu quero num jogo stealth. Esse é o tipo de jogo em que eu quero fazer as coisas com-toda-a-calma... Aliás, foi o que fiz, ignorando troféus, rankings, leaderboards e o que mais dependesse de rapidez.

Você ainda pode baixar um aplicativo para o seu smartphone ou tablet, para poder usá-lo como mapa (second screen é a moda da vez) durante o jogo. Quando não estiver em casa, o app tem um minigame estratégico em que você gerencia a Mother Base, expandindo sua estrutura, recrutando agentes e enviando-os em missões. É como se fosse um Elifoot, só que em vez de gerenciar um clube de futebol, você gerencia a Mother Base.

Eu nem me dei ao trabalho de baixar o aplicativo, e sinceramente não entendo como algumas pessoas dedicam tanto tempo aos mínimos detalhes de um único jogo, em tarefas que não me parecem nada divertidas. Mas, como diz o ditado, one man's trash is another man's treasure. De qualquer forma, Ground Zeroes em si foi muito legal, e eu acabei só deixando três troféus de lado. Só não procure meu nome nos leaderboards...

A Conclusão

Se você gosta de jogos imensos, ou não gosta de side quests, ou ainda considera inaceitável várias fases num mesmo mapa, passe longe de Ground Zeroes. Caso contrário você pode se decepcionar com sua percepção final do custo/benefício.

Agora, se você gosta bastante de stealth, ou simplesmente não quer esperar até o Phantom Pain sair, eu achei Ground Zeroes bem divertido. Custou metade do preço e me ofereceu mais diversão que vários jogos de preço cheio que eu já joguei. Foi só manter meu lado complecionista em cheque...

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