segunda-feira, 4 de maio de 2020

Faz sentido falar em backlog?

Eu sei que recentemente eu listei, bem aqui neste mesmíssimo blog, o meu backlog da década; mas confesso que a cada dia me ressinto mais de continuar usando o termo "backlog" para me referir aos meus jogos não jogados.

Vou continuar fazendo isso ao longo dessa postagem em nome da clareza e da simplicidade, mas a semântica realmente me incomoda. Você sabe o que o termo significa? Traduzindo livremente o que apareceu quando eu digitei "backlog definition" no Google, temos mais ou menos o seguinte: acúmulo de trabalho incompleto, que precisa ser tratado.

A sensação que essa definição evoca não é praticamente o antônimo de diversão? Pensar assim sobre jogos pelos quais eu me interessei a ponto de comprar, só porque ainda não tive tempo de jogá-los, me soa cada vez mais como autossabotagem.

Vamos raciocinar mais um pouco sobre isso.



O exemplo das assinaturas


Já parou para pensar que, quando você assina o XBox Game Pass (ou qualquer outro serviço do tipo), você está acrescentando um monte de jogos ao seu "backlog" de uma vez? Mas a gente nunca pensa assim. A gente pensa, "que ótimo, um monte de jogos com um baixo custo mensal".

Sabe o que tem um custo/benefício ainda melhor? Os jogos que você já tem. Eles custam exatamente nada por mês. Eu prefiro encarar o meu "vault" de jogos comprados individualmente da mesma forma que eu enxergo o "vault" de jogos disponibilizados para mim num serviço.

Esse exercício muda nosso modelo mental. Se você não considera cada série do Netflix como backlog, porque você considera cada jogo que você comprou como algo que você tem a obrigação de consumir?

A vantagem do backlog


Lógico que dar uma olhada de vez em quando nos jogos que você "comprou e não jogou" tem aspectos positivos. Um deles é melhorar seus hábitos de compra - mas é aí que a coisa se complica.

Vamos usar um exemplo puramente hipotético: se você se empolgou com uma promoção e pegou os dois primeiros jogos da série Metro na Black Friday de 2016... E, três anos depois, ainda nem mesmo instalou tais jogos... Você fica mais imune às promoções do novíssimo terceiro jogo da série, não é?

Esse é o lado bom de refletir sobre o famigerado backlog. Mas, muitas vezes, a gente quer absolver nossas decisões do passado. Só que não adianta se obrigar a jogar algo em que você não está mais tão interessado, essa atitude não vai trazer de volta o dinheiro que você gastou. Pelo contrário, é uma atitude que vai fazer você desperdiçar algo que vale mais que dinheiro: o seu tempo.

É por isso que eu gosto da ideia de substituir o termo "backlog" por "treasure trove", "vault" ou algo do tipo. Encare seus "jogos não jogados" como um cardápio de tesouros guardados esperando seu tempo disponível, não como uma lista de obrigações.

E daí se você não jogou alguns jogos que comprou? Considere-se um patrono magnânimo, que ajudou a sustentar desenvolvedores que se dedicaram a fazer esses jogos que tanto te interessaram, ainda que a vida não tenha te dado tempo suficiente para apreciá-los todos.

No último momento


Dito tudo isso, existe uma regra que eu tento adotar e que, sempre que eu olho meu backlog, lembro que preciso seguir mais à risca: o ideal é só comprar um jogo se eu for jogá-lo agora ou, no máximo, imediatamente depois do jogo que estou jogando agora. Ou seja, só comprar um jogo se ele furar totalmente a fila, se tornando o próximo a ser jogado.

Um exemplo para ilustrar: em 2016 eu joguei o The Division e gostei bastante, investindo cerca de 60 horas em dois meses (um recorde, para mim). Mas recentemente eu deixei passar uma promoção do The Division 2 por menos de 10 reais.

Ora, gostaria eu de jogar a sequência? Claro que gostaria. Mas consigo citar de cabeça pelo menos três jogos que eu já tenho - e quero jogar antes. Não faz sentido gastar agora em algo que eu, sinceramente, não sei se vai ser capaz de manter meu interesse até que, eventualmente, eu tenha tempo para consumir.

Quando você se pegar pensando no custo afundado do seu backlog, repense esse custo como o preço do autoconhecimento: você gastou para descobrir que tipos de jogos você gosta de verdade. Use isso para adotar melhores hábitos de compras, mas seja livre para jogar o que quiser, quando quiser. Afinal, a palavra de ordem ainda é se divertir, e uma parte essencial disso é fazer o que der na telha.

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